domingo, 20 de novembro de 2011

O Pingente

O estranho estava sentado no balcão sujo do bar bebendo algo que ele nem sabia o que era. Os habitantes locais o observavam com certa indiferença, imaginando ser mais um viajante perdido. A cidade ao sul do estado de Minas Gerais era pequena, com pouco menos de mil habitantes, pessoas humildes que viviam do turismo escasso que tinham naquela área, e das plantações. Era um local calmo para as pessoas que queriam fugir da agitação da cidade grande. O forasteiro olhou em volta, somente notando agora como era o local. O bar (se é que poderia se chamar de bar) era apenas um grande salão com algumas mesas distribuídas pelo local. O estabelecimento tinha apenas meia dúzia de pessoas, a maioria tomando uma cerveja e aproveitando a noite calma.
                _ Vai querer mais alguma coisa, amigo? – disse o dono do bar, um senhor baixo, queimado pelo sol, com cabelos brancos e um bigode grisalho. Foi nesse momento que o estranho notou que seu copo estava vazio.
                _ Sim, por favor – disse o homem em um sussurro rouco. Olhou mais uma vez em volta enquanto o dono do bar enchia o copo com mais uma dose de uma cachaça sem rótulo. Voltou à atenção novamente para o copo e perguntou em voz baixa – aquele cara lá trás sempre vem aqui?
                O atendente esticou a cabeça para o fundo do bar e olhou para um homem que estava sentado sozinho, com um boné preto cobrindo a cabeça, dando a impressão de que estava dormindo.
                _ Não, primeira vez que vejo ele por aqui. Chegou um pouco antes de você. – O homem coçou o bigode e perguntou para o estranho – você também é novo por aqui? Tenho a impressão que te conheço de algum lugar
                O forasteiro levantou a cabeça e olhou para o dono do bar. Ele se lembrava bem pouco dele. Seu nome era Carlos. Ele se lembrava das tardes depois que saia da escola quando ia para seu botequim tomar uma ou duas Coca-Cola com os amigos, enquanto assistia algum jogo de futebol na televisão.
                _ Me chamo Rodrigo, morei por aqui durante até eu fazer quinze anos.
                A expressão no rosto de Carlos foi de alguém que tentava se lembrar de algo, para surpresa e depois choque em menos de cinco segundos. Ele soltou um grunhido de exclamação, provavelmente tentando dizer alguma coisa, o que chamou a atenção do resto dos clientes.
                _ Meu Deus, o que você faz por aqui depois de todo esse tempo? Veio por causa da morte dos seus tios?!
                Rodrigo olhou para o resto do bar, vendo que agora era a nova atração, e notando algumas expressões de reconhecimento na face de dois ou três.
                _ Sim, foi por esse motivo.
                _ Mas o enterro foi há um mês!
                _ Eu sei, mas só agora eu consegui tempo, para pelo menos visitar os túmulos.
                Os outros fregueses chegavam perto do balcão agora, cada um dizendo palavras de condolências. Seu tio tinha sido o pastor de uma pequena igreja da cidade, e todos ficaram muito tristes e chocados com a morte do pastor João, principalmente por causa da brutalidade que havia acontecido.
                _ Me conte o que aconteceu com ele, por favor. Eu sei que vocês eram muito amigos.
                Carlos engoliu em seco, e olhou para os lados. Deu uma pequena tossida tentando disfarçar um pequeno nervosismo. Ele olhou nos olhos de Rodrigo que, embora tristes, estavam decididos.
                _ Bom, foi algo terrível. Ele estava estranho alguns dias antes do que aconteceu. Parece que tinha perdido a sanidade e a saúde. Estava extremamente magro, com aspecto de doente, não falava coisa com coisa. Da ultima vez que eu o vi ele estava de cama, no quarto de visitas com uma corrente de prata enrolada na mão, sussurrando coisas do tipo “não vão levar”, “eles não podem”, “como tiveram coragem de tal heresia”. Eu tentei conversar com ele, mas ele só respondia a mesma coisa: “O Inferno não pode ser pior que isso”.
                As pessoas ao redor olhavam fixas para o dono do bar, agora todos com a atenção presa pela história incrível que ele contava.
                _Eu não entendi o que ele queria dizer com aquilo, mas me assustou. Ele era uma pessoa super religiosa, e não falaria esse tipo de coisas a toa. Fiquei preocupado com ele. Seu quarto estava todo bagunçado, com papeis colados na parede, que só depois eu fui descobrir que eram paginas da Bíblia.
                “Nesta ultima visita que eu fiz a ele, sua tia Teresa me chamou para conversar comigo. Disse que se ele não melhorasse que teria que levá-lo pra capital já que não temos nenhum médico capaz de cuidar desse tipo de caso. O médico disse que ele estava esquizofrênico e que não havia recursos que poderia aplicar a não ser alguns calmantes.
“Ela estava muito nervosa também, falando que não estava conseguindo dormir direito, que ouvia barulhos estranhos à noite, sentia que algo ruim andava pela casa. Eu disse a ela para ter fé em Deus e Jesus, que nada de mal poderia acontecer com ela enquanto ela tivesse fé.
“Ela me chamou para ir na garagem com ela que precisava me dar uma coisa. Chegando lá ela foi em um armário, tirou um pequeno caderno que estava escondido, e me deu. Teresa me disse que o pastor João fazia algumas anotações de coisas que ele descobria. Perguntei para ela se já sabia quando ele começou a ficar daquele jeito estranho. Ela me disse que havia uma semana, quando ele chegou em casa e disse que tinha encontrado um artefato em suas andança. Depois desse dia as coisas começaram a acontecer. Ela me disse que ele ficou paranóico, falando que estávamos em um perigo que nem Deus poderia nos ajudar. Eu me arrepiei todo quando ela me disse isso. Olhei para o relógio e vi que já era hora de ir embora, pois tinha de abrir o bar. Se eu soubesse o que iria acontecer, eu teria ficado lá.”
Carlos fez uma pausa, na qual pegou um copo e encheu com um pouco da pinga, servindo uma dose para si mesmo. Rodrigo, impaciente, perguntou:
_ E o que tinha no caderno?
_ Não sei – disse Carlos, e tomou toda a bebida de uma só vez sem fazer careta. – Eu moro sozinho nos últimos dois anos, dês de que minha mulher morreu. Cheguei em casa e coloquei o caderno em cima da mesa. Tranquei a porta de casa e fui tomar banho. Tinha sido um dia quente e eu estava muito suado – disse ele com um tom de desculpa e suplica para acreditar nele – entrei no banheiro pra tomar banho - repetiu ele novamente, tremulo – quando estava terminando a luz acabou. Estava tudo escuro, e não sei porque eu senti medo. Senti como se alguém – hesitou – como se algo estivesse em minha casa. Senti uma presença ruim e ouvi algo estranho do outro lado da porta.
Todos que escutavam a história não faziam um barulho e nem duvidavam. Eles moravam em uma cidade pequena, em que sempre ouviam histórias sobrenaturais e raramente duvidavam de alguma. No meio tempo em que ele havia começado a contar a história mais pessoas chegavam, e ao ver todos reunidos no balcão, iam até lá para poder ouvir o que acontecia.
_ Você ouviu passos? – Perguntou um homem que tinha acabado de chegar.
_ Não, não. Era algo diferente. Eu no inicio não ouvi nada. Quando digo nada, era nada mesmo. Não existia o barulho dos pingos de água que caiam do chuveiro, nem da minha respiração. Era como se o som não existisse. Depois eu ouvi um som suave, como um movimento de ar. Depois senti algo frio. Meu corpo estava quente por causa do banho que tinha acabado de tomar, mas do meu lado direito, que era o lado em estava o chuveiro, estava frio. Simplesmente uma hora estava quente, e no momento seguinte estava frio, como se estivesse um... sei lá, uma presença fria do meu lado.
“Tudo isso aconteceu em pouquíssimo tempo, coisa de dois segundos. Senti todo o meu corpo arrepiar, e um medo infantil. Sai com correndo do banheiro, e sai direto para a sala. Neste momento a luz voltou e...”
Carlos hesitou por um momento. Não sabia se devia dizer o que tinha visto ou não. Poderia ser tachado de maluco por toda a cidade, e a história que contava não seria levada a sério mesmo sendo verdade. Foi Rodrigo que lhe salvou dizendo:
_ E você viu algo que parecia com uma sombra, só que não estava na parede e nem no chão.
Todos os olhares se voltaram para Rodrigo. Carlos assustado, perguntou como ele sabia. Rodrigo disse que contaria quando Carlos terminasse. Todos voltaram a olhar para Carlos de novo. Ele pigarreou e prosseguiu:
_ Bom, foi isso que eu vi. Ela desapareceu em um piscar de olhos. Nem eu acreditei o que tinha visto. Só acreditei quando vi na mesa da sala, onde eu tinha deixado o caderno, o sombreado do que me pareceu ser uma mão, mas no formato de garras. O caderno tinha desaparecido!
“Eu fiquei com muito medo de ficar em casa, então voltei para a casa do pastor para conversar com ele e com a Teresa. Achei que eles poderiam estar em perigo. As palavras de Teresa começaram a aparecer na minha cabeça. Fui até lá, rezando o pai nosso. Tentei pegar meu terço que tenho atrás da minha porta, o qual o próprio pastor tinha colocado lá, dizendo que ele protegeria de qualquer mal que aparecesse, mas ele havia sumido também.”
“Seja o que for que tinha acontecido comigo, tinha acontecido pior com o pastor João. Quando eu cheguei na casa dele, o delegado já estava lá. Ele me disse que eles haviam morrido. Dias depois a cidade inteira sabia o que tinha acontecido. O que falaram para nós foi que o pastor João em uma crise de loucura tinha matado sua esposa e se matado logo em seguida com sua pistola que ele guardava para praticas de tiro ao alvo. Ela ficava sozinha em casa, cuidando do marido, com apenas poucos amigos indo visitá-los. O que eu descobri depois com o amigo do meu sobrinho que trabalha na policia, é que o pastor, logo após matar sua esposa, tinha escrito nas paredes com o sangue dela:

O Inferno é melhor do que deixar ela viver esse tormento
E

Você vai para o Paraíso amor, Eu irei queimar para sempre no Inferno
                Vários foram os comentários de “Só pode ser mentira”, “Você esta tentando nos enganar”, “Quase você consegue me assustar”. Carlos não ligou para o que eles diziam e se virou para Rodrigo. Ele estava com uma corrente de prata enrolada na mão. Nela continha um pingente, com uma pequena pedra vermelha como o sangue incrustada em seu centro.
                _Eu tinha acabado de chegar na cidade com minha namorada, – Rodrigo começou dizendo, – fomos direto para o cemitério. Eu não queria ficar aqui mais tempo do que o necessário. O cemitério estava vazio, com um ar de abandono, mas não me importei. Demorei um pouco, mas encontrei o tumulo dos meus tios. Minha namorada, Catherine, estava quieta todo esse tempo. Ela sabia que eu era muito apegado a eles. Fiquei pouco tempo na frente do tumulo. Estava com uma sensação ruim. Assim que comecei a voltar, vi pelo caminho de terra batida logo à frente à sombra que você citou Carlos. Mas ela estava em baixo de uma arvore então eu achei que fosse uma pessoa. Quando cheguei a dez metros da coisa, eu pude notar que ela era não era uma pessoa. Simplesmente não era nada.
                “Catherine entrou em choque quando notou. Deu um grito de pavor, e disse: ‘isso é coisa do demônio’. Assim que ela disse isso, a forma se virou para ela e onde ficavam os olhos se tornaram brancos. Eu fechei os olhos e ouvi um pequeno riso. Senti uma presença fria do meu lado, onde estava Catherine, o barulho de duas coisas caindo no chão e uma pequena beliscada no meu braço, como se quisesse me puxar, mas não tivesse me segurado direito.”
                Todos no bar olhavam pra ele sem acreditar. Ele levantou tirou o casaco que estava usando, e deixou a mostra uma marca negra que estava no seu braço. A marca não parecia ser de machucado, nem tatuagem. Era simplesmente como se a pele estivesse absorvendo a cor. Todos no bar olharam incrédulos para aquela marca que provava tudo o que ele tinha dito até ali.
                _Catherine sumiu. Quando abri os olhos ela não estava lá. Simplesmente desapareceu. A única coisa que estava do meu lado eram isso – Ele tirou de uma bolsa que estava no chão um caderno e mostrou a corrente que estava enrolada na mão. – Não sei o que aconteceu comigo, apenas quis fugir de lá. Eu amava... Amo ela, mas não sei para onde ela foi. Eu estava com medo. Um medo que eu nunca senti na vida. Era como se algo não só quisesse me matar, mas que quisesse destruir minha alma. – Dito isso ele começou a chorar desesperadamente. Pegou a garrafa que estava no balcão e começou a beber direto do gargalo.
                Todos observaram aquela cena com tristeza e vergonha. Muitos murmuraram o chamandoele de medroso, outros apenas deram um tapinha no seu ombro. Um se virou para a porta, dizendo que ia avisar ao delegado o ocorrido quando Carlos disse que não.
                _ Porque não? – perguntou o homem.
                Carlos apontou para a porta. Eles não viram logo de inicio, mas depois notaram que tinha algo do outro lado da rua. Era algo grande, com um metro e noventa mais ou menos, tinha as curvas delicadas de uma mulher, mas aparentava ser forte como um homem. E era formado por sombras. Suas mãos tinham formato de garras, e um frio tétrico dominou a todos que estavam no bar.
                _ Meu Deus, só pode ser o...
                _ NÃO, NÃO DIGA ISSO! – berrou Rodrigo.
                _ Demônio
As luzes do local se apagaram, junto com a vida e a alma de todos que estavam no local, pra nunca mais acender.

Preparados?

Então pessoas, acabei de fazer mais um conto no qual eu já irei posta-lo agora. Peço desculpa caso ele não esteja legal, mas tive que dar uma quebrada e resumida se não ia virar mais um apendice de um dos meus livros. Mas é do mesmo universo que criei. *Na verdade eu acho que não consigo criar outro universo*

Então vamos lá? Aqui esta "O Pingente":

sábado, 19 de novembro de 2011

A Lua.

"Erick estava sentado em baixo de um grande carvalho, olhando para a Lua. O frio vento da montanha batia no seu corpo, mas ele não sentia frio, apenas solidão. Sentiu o cheiro de ursos perto dali, e ouviu o barulho de um pequeno riacho que corria a uns 500 metros a suas costas. Sentiu saudades de casa, e principalmente dela. Desejou vê-la, tê-la em seus braços. Fazer um cafuné em seus longos cabelos castanhos e beijar seus doces lábios intocáveis.

Ele desviou o olhar da lua, sabendo que não ia demorar mais muito tempo, e caminhou para o Sul, entrando mais ainda na densa floresta. Começou a suar frio, e sentiu os primeiros estalos nos ossos da coluna. Olhou mais uma vez para a lua, pedindo para ver a pessoa amada, e, por um apenas um segundo (que para ele, foi mais que o suficiente), ele viu seu rosto sendo refletido na superfície branca da lua. Ela estava usando os óculos que ele tanto gostava, contrastando com sua pele morena, e um sorriso de sapeca rebelde. Sua expressão de diversão escondia algo mais profundo de sua alma. Saudades. E ele sabia que era dele. E tão rápido que a imagem veio, ela se foi.

Olhando pra baixo dessa vez, Erick não lutou contra a transformação. Já havia se acostumado a ela. Antes da Besta tomar conta do seu corpo, ele pronunciou baixinho para a floresta, um sussurro que apenas o vento foi testemunha: 'Estou voltando pra você!' e saiu correndo pela floresta com um uivo de fundo"

1,2,3 Testando Testando.

Bem amigos da rede de Blogs da Internet, estamos aqui para dar inicio a primeira transmissão do meu blog (que não é o primeiro).

Deixando a graça de lado e indo ao que interessa:

Estou abrindo esse blog, por ser um autor amador e quero distribuir um pouco dos meus contos, e até mesmo uns ensaios dos meus livros.

Já aviso que demoro um pouco pra escrever algumas coisas, mas já tenho algumas coisas para postar, principalmente porque ultimamente ando triste e isso me da inspiração para escrever.

Cambio, desligo.